Quando a esperança de unidade entre os movimentos nacionalistas angolanos se desfez nas divergências políticas
Por Redacção 8000 | Baseado no livro As Memórias de Holden Roberto – Volume 1, de João Paulo N. Ganga
Introdução
Antes da independência de Angola, os principais líderes dos movimentos nacionalistas tentaram, por diversas vezes, unir esforços em torno de um único propósito: libertar o país do domínio colonial português. Contudo, entre ideais diferentes, pressões externas e visões políticas incompatíveis, as tentativas de união muitas vezes terminaram em frustração.
Um dos episódios mais marcantes desse período foi o fracassado acordo entre Holden Roberto, líder da FNLA, e Jonas Savimbi, presidente da UNITA — um momento que ficou registado nas Memórias de Holden Roberto como um símbolo das dificuldades da conciliação política em tempos de luta.
O encontro que prometia unidade
Depois de longas trocas de correspondência e esforços diplomáticos, Jonas Savimbi viajou até Kinshasa, onde foi recebido por Holden Roberto. O encontro tinha um objectivo claro: traçar uma estratégia comum entre a FNLA e a UNITA para fortalecer a luta pela independência de Angola.
Naquele contexto, muitos viam na aproximação entre os dois líderes uma possibilidade real de unidade nacionalista. O apoio internacional também se mostrava atento — Kinshasa era então um ponto estratégico de negociações e alianças africanas.
O colapso do entendimento
Mas, segundo relata Holden Roberto, as conversações rapidamente revelaram diferenças profundas entre os dois movimentos. Savimbi, conhecido por seu carisma e firmeza, defendia posições que a FNLA considerava difíceis de aceitar.
As divergências iam além das palavras — envolviam questões de liderança, influência externa e caminhos políticos distintos. Savimbi buscava autonomia e protagonismo, enquanto Holden Roberto procurava consolidar a FNLA como força principal da libertação.
Mesmo com tentativas de mediação e gestos diplomáticos de ambas as partes, o entendimento não se concretizou. As conversas terminaram sem consenso, marcando o fracasso de uma das últimas grandes tentativas de unidade antes da independência.
Lições de um episódio histórico
O episódio mostra o quanto a luta pela independência de Angola foi também uma luta de ideias, de visões e de lideranças. Para além do confronto com o colonialismo, havia um conflito interno entre projectos políticos que aspiravam à mesma liberdade, mas por caminhos diferentes.
Nas palavras de Holden Roberto, o fracasso do acordo com Savimbi foi “a prova de que a unidade não se impõe — constrói-se na confiança e no respeito pelas diferenças”.
Assim, o encontro em Kinshasa permanece nas páginas da história como um lembrete de que a independência não se conquista apenas com armas, mas também com diálogo — e com as lições dos diálogos que falharam.
Fonte: João Paulo N. Ganga – “As Memórias de Holden Roberto”, Volume 1, página 268.
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