Luanda, Angola – Uma cidadã de 29 anos foi apresentada pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC), no Comando Municipal dos Molevos, por estar implicada no crime de homicídio qualificado, após ter tirado a vida do próprio marido e abandonado o corpo num contator de lixo no bairro Capalanga, localizado na zona do Porto Seco. O caso chocou a comunidade local, gerando indignação entre os moradores e destacando, mais uma vez, a gravidade da violência doméstica em Angola.
Segundo informações recolhidas pelas autoridades, o casal teria tido uma discussão acesa pouco antes do ocorrido, motivada por questões domésticas aparentemente banais, que se intensificaram a ponto de culminar numa tragédia. Durante a apresentação pública da suspeita, ela declarou-se arrependida pelo ato cometido e explicou que não teve a intenção de matar o marido, mas que a situação fugiu do seu controle.
“Apenas fui tentando me defender da vida que nós tínhamos em casa. É uma coisa sem palavras, não tenho como explicar, porque são casos que não têm explicação… a única coisa que me veio à mente foi tentar meter o corpo num sítio e ir embora”, afirmou a acusada.
A acusada descreveu ainda a situação como algo que se desenrolou de forma inesperada e que não imaginava que pudesse terminar em morte:
“Eu não tinha outro pensamento na minha cabeça. A única coisa que me veio à mente foi tentar arrumar a situação, mas nunca pensei que isso levaria à morte dele… hoje não tenho paz, não sei como lidar com isso”, declarou.
O oficial de Informação e Comunicação do CIC Luanda, Emanuel Capita, afirmou que as diligências estão em curso e que o objetivo é esclarecer todos os detalhes do crime. Ele reforçou o compromisso das autoridades na luta contra o crime e na defesa da vida humana, garantindo que cada passo da investigação está sendo realizado de forma meticulosa.
O crime
De acordo com a investigação, o crime ocorreu no dia 27 de outubro, por volta das 13 horas. O marido da suspeita, identificado como Rodrino Moraes, de 28 anos, teria regressado a casa e iniciado uma discussão com a esposa devido a questões relacionadas com roupas e objetos pessoais. Durante o desentendimento, o homem, segundo relatos, perdeu o controle e iniciou agressões físicas contra a esposa.
Em defesa própria, a mulher apossou-se de uma faca de cozinha e desferiu vários golpes contra o marido. Apesar dos ferimentos, ela tentou socorrer a vítima, transportando-o para o hospital. Infelizmente, Rodrino Moraes não resistiu aos ferimentos e veio a falecer no trajeto, tornando o caso ainda mais trágico.
Após constatar a morte do esposo, a acusada decidiu ocultar o corpo, arrastando-o até um quintal abandonado onde havia uma lixeira, cobrindo-o com lixo para tentar disfarçar o crime. No dia seguinte, ela ligou para familiares do falecido, simulando preocupação com um suposto desaparecimento do marido, até que vizinhos encontraram o corpo e chamaram as autoridades.
Investigação e prisão
O SIC, em colaboração com o Ministério Público e o Juiz de Garantias, conduziu diligências para esclarecer completamente os fatos. Emanuel Capita destacou que a detenção da acusada foi resultado da atenção dos investigadores aos detalhes do caso, incluindo as reações da suspeita e de vizinhos diante do incidente.
“Nosso trabalho percorre cada detalhe do caso, observando a reação das pessoas e como os acontecimentos se desenrolaram. Isso nos permitiu chegar à detenção da cidadã e iniciar as investigações formais”, explicou Capita.
A suspeita permanece detida, aguardando os trâmites legais que definirão seu destino, enquanto as autoridades continuam a investigar se houve participação de terceiros ou circunstâncias adicionais que possam ter contribuído para o crime.
Contexto social
O caso levanta questões importantes sobre a violência doméstica em Angola, um problema que ainda é frequente em muitos lares. Especialistas em sociologia e psicologia destacam que desentendimentos do dia a dia, se não forem resolvidos de forma adequada, podem evoluir para tragédias, especialmente quando há histórico de conflitos, abuso de álcool ou comportamentos agressivos.
O fato de uma discussão doméstica aparentemente simples ter resultado em homicídio evidencia a necessidade de programas de prevenção à violência doméstica, incluindo educação, apoio psicológico e linhas de denúncia acessíveis à população.
Depoimentos e repercussões
Vizinhos que conheceram o casal expressaram choque e tristeza pelo incidente. Alguns relataram que já haviam presenciado discussões frequentes entre o casal, mas nunca imaginaram que poderiam evoluir para um homicídio. Familiares da vítima também comentaram sobre a violência e ressaltaram a importância de políticas públicas que protejam indivíduos em situação de risco doméstico.
A acusada, por sua vez, enfatizou o arrependimento profundo pelo ocorrido e reconheceu que tentou acreditar em mudanças no comportamento do esposo, apesar dos avisos de familiares e amigos.
“Eu acreditava que ele iria mudar… e hoje me arrependo de ter voltado. Se soubesse, isso não teria acontecido”, disse.
Perspectivas legais
O Ministério Público irá avaliar a acusação de homicídio qualificado, considerando a gravidade do crime e as circunstâncias em que ocorreu. O caso será analisado em tribunal, e a acusada poderá responder por todas as implicações legais decorrentes da morte do marido.
Emanuel Capita reforçou que o SIC trabalha para garantir que a justiça seja feita, destacando a importância de provar todos os fatos com base em evidências antes de qualquer conclusão.
“Nada é tão visível quanto aquilo que se pode provar com fatos. Sem os fatos aferidos, não podemos avançar dados conclusivos. Estamos trabalhando meticulosamente para trazer outros dados sobre esse acontecimento”, afirmou.
Conclusão
Este caso evidencia o perigo da violência doméstica e os efeitos devastadores que desentendimentos podem ter quando não são tratados de forma adequada. Ele também ressalta a importância do trabalho do SIC e das autoridades angolanas na investigação e responsabilização de crimes, protegendo a vida humana e promovendo a justiça.
Enquanto as investigações prosseguem, a comunidade permanece em alerta, e familiares da vítima aguardam respostas definitivas sobre as circunstâncias do crime e a punição cabível para a acusada.
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