Por Reginaldo Silva, jornalista
Já há muito tempo que não tinha uma aula prática sobre o que é a diplomacia e o que significa ser diplomata. Tive-a esta quarta-feira, 13 de agosto, ao ouvir as declarações do embaixador russo, Vladimir Tararov, após a audiência de despedida concedida pelo Presidente da República, João Lourenço.
Tararov esteve acreditado como embaixador da Federação Russa em Angola durante oito anos. Antes disso, já tinha representado a antiga União Soviética na Comissão Conjunta Político-Militar (CCPM), criada pelos Acordos de Paz de Bicesse, em 1991.
Depois de tudo o que tem acontecido recentemente nas relações entre Luanda e Moscovo, fruto da nova dinâmica introduzida por João Lourenço na política externa, confesso que foi surpreendente ouvi-lo afirmar que as relações entre os dois países “nunca estiveram tão bem”. Tão bem que, segundo ele, já se trabalha num próximo encontro entre João Lourenço e Vladimir Putin.
O embaixador disse ainda que, após tantos anos em Angola, já sente o país como a sua segunda casa. É aqui que a diplomacia mostra uma das suas funções: dar a impressão de que está tudo bem, mesmo quando o cenário é de tensão — como o maestro da orquestra do Titanic que continua a tocar na hora do naufrágio.
Não acredito que as relações estejam assim tão más, pelo que a metáfora não é para levar à letra. Mas fica uma pergunta no ar: será que ninguém perguntou ao embaixador sobre os dois cidadãos russos recentemente detidos em Angola, acusados de atividades terroristas e apresentados publicamente algemados? Há algo nesse episódio que me faz lembrar a justiça medieval dos tempos da Inquisição.
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