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domingo, 19 de outubro de 2025

Onde pára o Dr. João Pinto?



Por Sousa Jamba

Há figuras que, mesmo ausentes, continuam a ordenar o espaço público — não pelo ruído, mas pela lembrança do rigor. O Dr. João Pinto é uma dessas figuras. Quem o viu debater, quem o ouviu argumentar com método e urbanidade, sabe bem do que falo: era um homem que pensava com disciplina e falava com respeito. Hoje, quando o discurso público se afunda em gritaria e slogans, é inevitável perguntar: onde pára o Dr. João Pinto?


Nos tempos em que cruzávamos argumentos, havia nele uma qualidade rara — a humildade intelectual. Quando via o raciocínio ceder, reconhecia o erro e cedia também. Essa atitude, tão simples e tão nobre, desapareceu quase por completo do nosso convívio político. Hoje, a vaidade e a ânsia de vencer substituíram a vontade de compreender.


O Dr. João Pinto estudara lógica, conhecia as suas regras e, sobretudo, respeitava-as. Sabia distinguir premissas e conclusões, via onde a prova se sustentava e onde se desfazia. Essa vigilância não era pedantismo; era, como ele dizia, “higiene do juízo”. Tinha horror à falácia — à generalização apressada, à falsa analogia, ao espantalho, à armadilha da emoção. E era esse respeito pela forma que dava substância ao conteúdo.


Hoje, assistimos ao contrário: debates sem forma e sem fundo. Gente que chega às discussões como quem entra numa arena com um machado — prontos a ferir, não a convencer. O objectivo já não é o esclarecimento, mas a humilhação. As ideias deixaram de ser ferramentas de construção e tornaram-se armas de destruição.


O João Pinto que recordo — letrado pela escola da vida, operário e académico ao mesmo tempo — tratava o pensamento com a mesma seriedade com que um mestre-de-obras trata o prumo. Levava o livro e a palavra com respeito. Discutir com ele era um desafio que obrigava a estudar, a pesar o argumento, a separar a prova do adorno.


É essa falta que hoje se sente no espaço público: a ausência do debate limpo, disciplinado, argumentado. João Pinto lembrava-nos que pensar é trabalho e que a vitória, sem critério, não vale o aplauso.


Por isso, quando me perguntam o que falta à nossa vida política, respondo sem hesitar: falta método, falta humildade, falta João Pinto.


Pergunta final:
Será que ainda é possível recuperar esse espírito de debate — onde a razão valia mais do que o ruído e a verdade importava mais do que o partido?

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