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terça-feira, 14 de outubro de 2025

Nelito no Alvo

 

 


Porque é que, no meu feed, se despeja clip após clip de jovens eminentes a falarem mal de Nelito Ekuikui, chefe da juventude da UNITA; mal abro a aplicação e lá estão, insistentes; e o traço que melhor define estes ataques é o alvo escolhido, a pessoa e não as ideias; não discutem o que Nelito disse, discutem Nelito; ouvi invetivas sem freio; um rapaz apressou-se a carimbá-lo de tribalista do Sul e mal conteve um desprezo fundo pela sua identidade, como se essa identidade fosse afronta à sua própria existência; acusou-se o dirigente de tirar partido do salário de deputado sem trabalhar; acusou-se-o de se aproveitar da beleza de raparigas em Luanda, seduzindo-as sem as merecer; acusou-se-o de desrespeitar terceiros e outros partidos quando, dizem, isso não lhe competia; e a obstinação em o desqualificar roça o ridículo.


No auge deste ruído, surgiu a acusação espetacular, quase farsesca; um autoproclamado investigador andou por programas a dizer que tinha provas de que Nelito, com outra figura do MPLA,  teria entrado numa sociedade, insinuando conflito de interesses; e o que soou irrazoável, quase infantil e desmedido, foi o nevoeiro do condicional; o acusador agitava documentos no ecrã do telemóvel, enquanto Nelito Ekuikui o desafiava a publicar as provas; nada foi publicado; ficou a algazarra, ficou a pantomima; e repete-se este exibicionismo tosco e incoerente, grandiloquente por esforço, com figurantes de balcão a procurarem o seu minuto ao sol atirando lama a Nelito.

Há dias, detive-me no canal Vlogs do Primata; o jovem partiu para o Cuando Cubango, percorreu caminhos longos, alcançou Rivungo, escutou o rumor antigo das fronteiras; falou, com sinceridade comovente, da pena de ver um país tão belo e tão esquecido; contou que viu elefantes, muitos, mais do que supunha, e búfalos em manada; contemplou os rios Cuando e Cubango e sentiu que a travessia inteira era aventura extraordinária; disse, quase a rir, que dói lembrar irmãos contra irmãos e que, agora, é possível amar e celebrar Angola.


Fiquei comovido; lembro-me de quando aquela região era sinónimo de guerra; lembro-me da mentalidade das armas, das bombas, das minas, de tudo quanto separava e destruía; recordo também um tempo em que a divisão entre irmãos não era total, quando militantes da UNITA e do MPLA se convidavam para almoços e conversavam com naturalidade; havia lugares onde as pessoas descobriam interesses comuns, o desporto, a música, a religião, a cultura, e onde a identidade não se resumia à filiação política.


Houve, então e agora, um gotejar de propaganda, lento e ácido, um envenenamento do espírito público; por isso convém vigilância, sobretudo quando se adivinham eleições e as pessoas se veem submersas em ruído; num país de tradição crítica frágil, o rumor toma depressa o lugar do juízo; esse fio de imputações, gota a gota, abre caminho à amargura e, no limite, à guerra; quando projetamos no outro todo o negativo, o cérebro habitua-se, deixamos de ver valor no objeto do ódio, deixamos de ver humanidade no rosto adversário; enclausuramo-nos em bolhas de autossuficiência moral, onde a razão e a empatia se afogam.


Queria ouvir um bom debate, desses em que, mesmo sem acordo, lampejam lógica e precisão; o valor do debate reside em escutar ativamente, sem confirmar preconceitos; compreendo a urgência de os jovens entrarem na política; mas ser político pede capacidade intelectual e disposição para pensar com profundidade; se se entra para repetir fórmulas, ecoar preconceitos ou manejar retórica conveniente, o exercício perde valor; se se chega com a ambição de analisar falhas do passado, oportunidades do presente e perigos do futuro, propondo soluções criativas, então o gesto torna-se necessário.


Veja-se o Quénia, onde a juventude participa na política e se envolve em inteligência artificial e novas tecnologias, aplicando-as ao desenvolvimento; marca presença nos novos meios e cria espaços de discussão séria sobre economia e sociedade; há poucos meses, o Presidente Ruto reuniu-se com jovens das indústrias criativas; percebeu-se que entendem o potencial global das artes, tanto como expressão como fonte de rendimento; esses grupos apresentam propostas e políticas, mostrando que a participação informada é caminho de progresso.


Em vez de mais jovens a falarem mal de Nelito como pessoa, quero ouvir o que a juventude tem a dizer sobre o sistema educativo; como usar tecnologias e inteligência artificial para combater o analfabetismo; num país de telemóveis inteligentes, criar aplicações para que as crianças aprendam matemática na sua língua, enraizada nas suas referências; desenhar programas que tornem a matemática útil à vida diária, mostrando como a álgebra ajuda o pequeno comerciante a gerir o negócio; com oportunidades económicas a despontar em Angola e na região austral, quero propostas para a participação juvenil nesses mercados; quero criatividade, energia canalizada para pensar de modo original, recusando conformismos e o ódio fácil; no fim, somos irmãos, e o futuro constrói-se nessa fraternidade.


Espero que se  crie e proteja espaços de debate sério; pôr três pessoas a discutir um partido ausente da mesa é embuste intelectual e farsa transparente, quase infantil, que viola a disciplina da análise honesta; ver participantes com agendas pessoais a mascararem nervos e ressentimentos sob pretexto de comentário político é carnaval de ruído e vaidade, nauseante pela falta de rigor; numa fase crucial da nossa história, nada é mais inútil do que semelhante encenação; o país precisa de seriedade, ideias sólidas e confrontos que iluminem.


Avaliaremos, portanto, o que Nelito Ekuikui tem dito e não o que prefere ao pequeno-almoço; o que propõe para o país e não minudências de vida privada; discutir a pessoa, em vez do pensamento, é cair no ridículo; se Angola deseja amadurecer, política e moralmente, terá de recentrar o debate nas ideias.

Por Sousa Jamba (Jornalista)

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