O jornalista e repórter angolano Luís Caetano volta a escrever sobre as memórias da guerra e presta homenagem aos pilotos da FAPA-DA e às vítimas do conflito que marcou o país, numa reflexão sobre a dor, o dever e a memória colectiva de Angola.
Há histórias que o tempo tenta apagar, mas que a consciência insiste em preservar. É com essa convicção que o jornalista Luís Caetano decidiu voltar a escrever sobre um dos períodos mais marcantes da história recente de Angola: a guerra e os 50 anos da Televisão Pública de Angola (TPA), revisitando memórias que misturam dor, coragem e dever.
Num texto profundamente emotivo e de forte carga humana, Caetano recorda os dias em que cruzou o país com uma câmara na mão, documentando a guerra e convivendo de perto com os pilotos da Força Aérea Popular de Angola — Defesa Aérea (FAPA-DA).
“Não filmei a guerra à distância”, escreve. “Caminhei entre os escombros, entre os gritos e as preces, entre os mortos, o medo e a coragem. E, muitas vezes, voei com esses homens, pilotos que enfrentavam o impossível, sabendo que qualquer voo poderia ser o último.”
O jornalista conta que recebeu centenas de mensagens após a publicação de suas recordações — algumas de gratidão, outras de dor — vindas de ex-colegas, viúvas e filhos de combatentes que cresceram sem o abraço dos seus heróis.
“Escrevi com a alma, não com a frieza de um repórter”, diz Caetano, que vê neste exercício de memória uma forma de homenagear os que partiram e reafirmar o compromisso com a verdade histórica.
Entre as passagens mais tocantes, o repórter recorda a cumplicidade da mãe, que o abençoava antes de cada partida, sem pedir explicações.
“Ela chorava em silêncio, diante de um telefone que raramente tocava. A cada missão, vivia a sua própria guerra: a de esperar”, escreve.
O Planalto Central, cenário de algumas das mais intensas batalhas, permanece vivo na memória de Caetano como um território de dor e resistência.
“Cada estrada tinha o cheiro da pólvora e da morte, cada rosto escondia uma história. Angola sangrou contra si mesma, e ainda hoje nos cobra — não em balas, mas em traumas.”
Mais do que um registo jornalístico, o texto de Luís Caetano é um ato de testemunho e consciência nacional.
“Voltei a escrever porque o silêncio, às vezes, é uma segunda morte”, afirma.
Com essa reflexão, o jornalista propõe um olhar sensível sobre a história e o papel da comunicação como guardiã da memória colectiva.
Encerrando a sua mensagem, Caetano deixa um apelo pela paz:
“Que nunca mais precisemos de câmaras para filmar a guerra. Que sejam as lentes da memória a preservar a paz.”
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