João Soares recorda Alexandre Nascimento: “Ficou aquém na crítica ao regime angolano” - Rádio 8000

NOTÍCIAS

Home Top Ad










Post Top Ad








terça-feira, 10 de junho de 2025

João Soares recorda Alexandre Nascimento: “Ficou aquém na crítica ao regime angolano”

Em memória do antigo Cardeal de Luanda, João Barroso Soares partilha reflexões pessoais e políticas sobre o colega da Faculdade de Direito de Lisboa.

Por ocasião de um pedido feito por Fernando Oliveira, seu colega da Faculdade de Direito de Lisboa, João Barroso Soares escreveu um testemunho pessoal sobre Alexandre Nascimento, figura proeminente da Igreja Católica em Angola e Cardeal de Luanda, falecido recentemente.

O texto, publicado por Soares como registo de memória, descreve o encontro entre os dois na Faculdade fundada por Afonso Costa, nos anos marcados pela presença de estudantes e sacerdotes angolanos exilados em Portugal por razões políticas. Alexandre Nascimento fazia parte desse grupo, tendo sido apresentado a Soares por Joaquim Pinto de Andrade, outro sacerdote e destacado líder intelectual angolano.

“O Alexandre Nascimento era um distinto e simpático membro desse grupo. Bem-humorado, por natureza muito convivial, inteligente e solidário”,
recorda João Soares.

A convivência entre os jovens estudantes e ativistas, em plena ditadura portuguesa, reforçou laços de solidariedade e compromissos políticos, nomeadamente com a causa anticolonial angolana. Segundo Soares, a amizade com Alexandre Nascimento manteve-se durante décadas, mesmo quando os seus caminhos e perspetivas políticas divergiram.

“Já Cardeal, visitei-o em Luanda no Paço Episcopal sempre que me desloquei a Angola. E a corrente pessoal de simpatia mútua manteve-se, não obstante, por vezes termos divergências sobre várias questões políticas angolanas e portuguesas”
, escreve.

Apesar do reconhecimento pela sua carreira e influência na Igreja, João Soares não esconde uma crítica clara ao papel de Alexandre Nascimento na vida política de Angola. Lamenta, em particular, o silêncio do cardeal sobre os episódios mais sombrios da história recente do país, como o massacre de 27 de maio de 1977.

“Na minha modesta, e amiga, opinião, ficou muito aquém do que deveria e poderia na crítica firme, na condenação frontal, de um dos mais corruptos e anti-democráticos regimes como foi, e continua a ser, o de Angola há 50 anos.”


“E que eu saiba, não disse uma palavra sobre o maior massacre político da África Subsariana que foi a chacina de dezenas de milhares de angolanos a 27 de maio de 1977.”

João Soares conclui o testemunho com um tom afetivo, mesmo perante as críticas políticas:

“Apesar disso, estou certo de que o Deus em que ele acreditava — eu não — já lhe perdoou esses pecados. Saudades do meu amigo Alexandre Nascimento.”

O texto, datado de março de 2025 e assinado em Sintra, reflete uma amizade marcada pela história, pela política e pelo respeito mútuo, apesar das diferenças ideológicas

Sem comentários:

ADS

Pages