
Por Rádio 8000 | Entrevista Exclusiva
Sandra Cordeiro é uma das vozes mais marcantes do Afro Jazz Angolano. Com uma trajetória guiada pelo talento, fé e resiliência, a artista tem conquistado espaço dentro e fora de Angola — provando que a música, quando é verdadeira, sempre encontra o seu caminho.
Infância: Onde tudo começou
Sandra cresceu cercada por música. Inspirada pelo pai, que ouvia em casa nomes como Ella Fitzgerald, Bob Mcfarlane e Frank Sinatra. Foi durante as férias escolares que a sua vida deu uma guinada: ao aceitar um convite para cantar num grupo da igreja, descobri algo que mudaria tudo:
"Quando abri a voz para cantar, percebi que estava lá comigo. Foi nesse momento, ao cantar o evangelho, que percebi: é isso que quero fazer para a minha vida."
Essa descoberta levou-a a divulgar-se na música, participando de festivais como o Prémio Canção de Luanda e o Variante 2006 — onde brilhou ao conquistar os principais prémios: Melhor Voz, Letra e Interpretação.
A estreia com “Tata Nzambi”
O seu primeiro álbum, Tata Nzambi , gravado em 2006 e lançado dois anos depois, marcou o início da sua jornada profissional. Produzido por Nino ‘Jazz’, o disco chama atenção pela proposta ousada: sem bateria, apenas percussões.
“Tata Nzambi é um álbum muito forte. Ele não tem bateria, é só percussão. Foi o meu grande trampolim.”
Com músicas como “Tempo”, “Hoje” e a faixa-título, Sandra consolidou a sua identidade artística e destacou-se como uma das grandes vozes do Afro Jazz.
Versatilidade e parcerias com o Hip Hop
Sandra sempre se mostrou variada, e a sua conexão com o Hip Hop reforça isso. Ao longo da carreira, colaborou com nomes como Megga Fofo, Negro Bué, Totó, Dji Tafinha e NTB, participando de coros e criando pontes entre o ‘jazz’ e o ‘rap’.
"Tentei sempre entrar no universo do artista, entender o que ele queria. Fui ganhando experiência e conexão com muitos nomes da cena."
Uma das suas parcerias favoritas foi com Megga Fofo — uma música que ela ainda guarda com carinho e orgulho.
Ser mulher e fazer Afro ‘Jazz’ em Angola
A artista foi direta ao falar sobre os desafios da carreira. O principal obstáculo? Financiamento.
"Fazer música em Angola é muito difícil. Não tínhamos uma indústria e dependíamos de patrocínio. Muitas vezes, esses patrocínios vinham com segundas intenções."
Além disso, o Afro ‘Jazz’, com sua sofisticação e profundidade, não é o estilo mais comercial, o que torna ainda mais difícil conquistar espaço e reconhecimento financeiro.
Do palco nacional aos festivais internacionais
Apesar das dificuldades, Sandra conquistou reconhecimento em palcos internacionais, inclusive no Brasil. O seu segundo álbum, Luandense , trouxe novas colaborações, como o dueto com o congolês Kisangwa — um momento simbólico de união africana.
"Foi uma grande valorização dos nossos irmãos africanos. Um dueto lindo, cheio de significado."
A chama que nunca se apaga
Mesmo com as adversidades, Sandra nunca desistiu da música. Nos momentos mais difíceis, foi o amor pela arte que a manteve firme:
“Penso sempre em desistir. Mas há algo maior que me faz continuar. É o amor pela música. É o que me completa.”
Próximos Projetos: Um Novo Capítulo na Carreira de Sandra Cordeiro
Mesmo depois de tantos anos de carreira, Sandra Cordeiro continua a reinventar-se e a explorar novas sonoridades. Atualmente, ela vive em Portugal, onde tem conciliado a vida familiar com a música e novos empreendimentos.
Em 2024, Sandra lançou dois novos ‘singles’ que marcaram uma nova fase criativa:
"Não Se Emociona" – Um afrobeat moderno e envolvente, lançado em maio de 2024. A canção fala sobre amor, liberdade e maturidade emocional, e mostrou uma Sandra mais ousada e alinhada às novas tendências da música africana contemporânea.
"Pela Manhã" – Lançado pouco depois, esse ‘single’ reforçou as forças da cantora, mantendo o equilíbrio entre a sofisticação do Afro Jazz e elementos rítmicos atuais.
Além dos lançamentos individuais, um novo álbum está em produção, com previsão de lançamento ainda este ano. Sandra revelou em entrevistas que este novo projeto vai explorar ainda mais a sua essência africana, misturando influências tradicionais e contemporâneas, com colaborações inéditas com artistas de outros países africanos e da diáspora.
"Estou a trabalhar num novo álbum. Tem sido um processo muito emocional, porque estou a revisitar as minhas raízes com uma nova arte atualizada." — Disse Sandra em entrevista recente.
Mesmo longe de Angola, Sandra continua ligada à cena cultural do seu país e afirma que pretende levar a música angolana aos mais palcos internacionais.
Conclusão
Sandra Cordeiro é mais uma artista de talento. É uma mulher que transformou fé, dor e paixão em música de verdade. A sua história é um exemplo de como a arte, quando feita com dificuldades, supera barreiras, resiste ao tempo e ecoa além-fronteiras.
Ouvir a entrevista:
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