Thomas Jefferson e Sally Hemings: o consenso histórico sobre uma relação silenciada - Rádio 8000

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sábado, 27 de dezembro de 2025

Thomas Jefferson e Sally Hemings: o consenso histórico sobre uma relação silenciada


Durante grande parte da história dos Estados Unidos, a imagem de Thomas Jefferson — terceiro presidente do país e um dos principais autores da Declaração de Independência — foi apresentada como a de um estadista exemplar. No entanto, pesquisas históricas e científicas mais recentes trouxeram à tona um capítulo complexo e por muito tempo negado da sua vida pessoal: a relação com Sally Hemings, uma mulher negra escravizada na sua propriedade, Monticello.


Hoje, existe um amplo consenso entre historiadores de que Jefferson teve pelo menos seis filhos com Sally Hemings, dos quais quatro chegaram à idade adulta. Essa conclusão baseia-se em evidências científicas, registros históricos e análises documentais acumuladas ao longo de décadas.


Evidências científicas e revisão histórica


Em 1998, um estudo de DNA representou um marco decisivo no debate. A pesquisa confirmou uma ligação genética entre a linhagem masculina de Thomas Jefferson e os descendentes de Eston Hemings, o filho mais novo de Sally. Embora o teste não identificasse Jefferson de forma individual, ele excluiu outras linhagens e reforçou a hipótese já defendida por diversos historiadores.


Dois anos depois, em 2000, a Thomas Jefferson Foundation, instituição responsável por Monticello, declarou que Jefferson era “quase certamente” o pai dos filhos de Sally Hemings. Essa posição foi reafirmada oficialmente em 2018, consolidando o entendimento predominante na historiografia moderna.


Uma relação iniciada na Europa


De acordo com estudos históricos, a relação entre Jefferson e Sally Hemings pode ter começado em Paris, no final da década de 1780. Na época, Jefferson servia como diplomata dos Estados Unidos na França, e Sally, então adolescente, acompanhava uma das filhas dele. Em território francês, a escravidão não era legal, o que levanta importantes debates sobre consentimento, poder e coerção no contexto dessa relação.


O destino dos filhos e o silêncio sobre Sally


Thomas Jefferson tomou uma atitude incomum para os padrões da época ao libertar todos os quatro filhos sobreviventes de Sally Hemings — Beverly, Harriet, Madison e Eston. Eles foram os únicos membros de uma mesma família escravizada a receber alforria direta de Jefferson, o que reforça a singularidade do tratamento dado a esse núcleo familiar.


Sally Hemings, por outro lado, nunca foi formalmente liberta, mas viveu como mulher livre após a morte de Jefferson, com o consentimento tácito da família dele.


Controvérsias residuais


Apesar do consenso atual, pequenos grupos ainda defendem a tese de que o pai dos filhos poderia ter sido Randolph Jefferson, irmão mais novo de Thomas. No entanto, a maioria dos historiadores rejeita essa hipótese, apontando a presença documentada de Thomas Jefferson em Monticello durante os períodos de concepção e o tratamento diferenciado concedido aos filhos de Sally Hemings.


Reavaliando o legado


A história de Thomas Jefferson e Sally Hemings revela as contradições profundas entre os ideais de liberdade proclamados na fundação dos Estados Unidos e a realidade da escravidão. Mais do que um detalhe biográfico, esse episódio convida a uma reflexão crítica sobre poder, raça e memória histórica — e sobre como figuras centrais do passado devem ser compreendidas à luz de novas evidências.

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