Por Vlogs do Primata
CANSEI — Já Não Dá Para Ficar Calado
" Quando comecei a fazer vlogs de viagens em Angola…
muita gente achou que eu queria apenas aparecer.
Que eu estava atrás de fama.
Que eu queria chamar atenção.
O que essas pessoas não sabiam…
é que, naquela altura, eu já tinha um canal com mais de 100 mil subscritores.
Sim… Vlogs do Primata é o meu segundo canal.
Mesmo assim, riram de mim.
Chamaram-me maluco.
Disseram que eu estava a perder tempo a mostrar o meu próprio país…
a explorar províncias, a andar de autocarro, a viver experiências simples,
a filmar paisagens que poucos valorizavam.
Mas hoje…
as mesmas pessoas que me chamaram maluco…
são as mesmas que ficam encantadas ao ver um turista norte-americano
assistir um jogo entre Angola e Argentina no nosso estádio.
São as mesmas que acham maravilhoso ver ele visitar as Quedas de Kalandula,
andar pelos nossos mercados, elogiar o que é bom,
e até criticar o que precisa de melhorar.
Para ele… tudo é “lindo”.
Para nós, quando fazíamos antes… era “maluquice”.
Durante muito tempo…
nenhuma grande página, nenhum grande portal falou do meu trabalho.
Ninguém acreditava no impacto que isto poderia ter.
Mas deixa eu dizer isto com sinceridade:
Ao turista americano… desejamos tudo de bom.
Que ele explore Angola, que mostre o nosso país ao mundo,
que viva as nossas estradas, a nossa cultura, o nosso povo.
Isso enriquece Angola.
Isso fortalece o turismo.
E isso ajuda-nos a crescer.
Mas a nós, Angolanos…
fica uma reflexão importante:
Precisamos aprender a valorizar o que é nosso.
O nosso talento.
Os nossos criadores.
Os nossos mochileiros.
Os nossos contadores de histórias.
Eu sou mochileiro angolano.
Eu tenho orgulho do meu trabalho.
Eu tenho orgulho do que construí, mesmo quando ninguém acreditou.
E no fundo…
a chegada do turista americano veio provar apenas uma coisa:
O Vlogs do Primata nunca foi maluco.
Nós é que sempre estivemos à frente.
"
Esse debate aprofundou-se após conteúdos do Vlogs do Primata terem sido exibidos por um canal de televisão, alegadamente sem autorização formal. Há relatos de que o material foi editado com cortes que suprimiram a presença do apresentador e removeram o fio narrativo original do documentário.
A situação reacende questões éticas e jurídicas relacionadas ao uso de obras audiovisuais. Embora imagens possam ter sido cedidas por cortesia em contextos anteriores, tal gesto não constitui contrato nem transferência de direitos. Cortesia não autoriza alteração, redistribuição ou exibição comercial do conteúdo. A legislação de direitos autorais em Angola — incluindo princípios presentes na Lei n.º 4/90 — estabelece que o autor possui direitos morais e patrimoniais sobre a sua obra, incluindo:
o direito exclusivo de autorizar reprodução e difusão;
o direito moral de paternidade (ser identificado como autor);
o direito moral de integridade (impedir alterações que distorçam a obra);
a irrenunciabilidade e perpetuidade dos direitos morais.
Modificações não autorizadas, como remoção de apresentação, corte de trechos essenciais ou exibição sem crédito, podem constituir violação direta desses direitos. Tal prática é comparada, no discurso do autor, à ideia de emprestar um carro para gravação e alguém assumir que pode vendê-lo pelo simples facto de o ter utilizado.
O episódio representa, segundo especialistas, não apenas disputa autoral, mas também um processo mais amplo de silenciamento e invisibilidade de narradores locais dentro do ecossistema mediático. Criadores independentes, frequentemente sem financiamento institucional, são responsáveis por grande parte do conteúdo que promove a imagem do país, enquanto estruturas maiores muitas vezes recorrem às suas obras sem remuneração ou reconhecimento formal.
Nesse panorama, torna-se evidente que Angola beneficia-se quando é mostrada ao mundo — seja por turistas estrangeiros ou por criadores nacionais — mas o desenvolvimento saudável da indústria cultural depende de valorização equitativa, respeito à autoria e políticas claras de licenciamento e cooperação profissional.
O caso sublinha uma conclusão central: a narrativa sobre Angola não deve ser construída apenas de fora para dentro. Criadores angolanos têm papel essencial na memória visual do país e merecem reconhecimento proporcional ao impacto que geram. Valorizá-los é fortalecer a cultura, o turismo e a identidade nacional.
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