Entrevista conduzida por Chakuisa Muachinguenji | Rádio Zango 8000
Das terras culturais das Lundas para o mundo, surge a força feminina e a musicalidade de Muana Katchokwe Tchol, uma artista que carrega na voz as histórias, as dores e o orgulho de um povo. Em entrevista exclusiva à Rádio Zango 8000, conduzida por Chakuisa Muachinguenji, a cantora falou sobre as suas origens, as suas canções e a importância de preservar a identidade cultural angolana.
“Manaminga não lamenta”: Uma História Vivida
A conversa começou com a música “Manaminga não lamenta”, tema que abriu o programa e emocionou os ouvintes. A canção nasceu de uma história real vivida pela avó da artista.
“Essa música inspirou-me através da minha avó. Ela tinha um filho caçula que se envolveu em maus caminhos, e a vizinhança passou a maltratá-la. Até o marido deixou de respeitá-la, culpando-a pela educação do filho. Quando ouvi a conversa entre a minha mãe e a minha avó, percebi que era uma história que precisava ser transformada em canção.”
Foi dessa dor e dessa vivência familiar que nasceu um dos temas mais sentidos do seu repertório.
Identidade e Raízes
O nome artístico Muana Katchokwe Tchol é uma homenagem direta à sua origem e ao povo Tchokwe, conhecido pela riqueza cultural e pela tradição.
“Eu sou Tchokwe, venho de uma família de reis e rainhas. Apesar de viver em Luanda e ser formada em língua portuguesa, nunca deixei de preservar a minha língua materna. Desde pequena danço Tchianda — e é daí que vem o nome ‘Tchole’. Quando dançava, as pessoas vinham beliscar o meu ombro em sinal de alegria. Assim nasceu o nome Muana Katchokwe Tchol.”
A artista afirma que a sua identidade é a base da sua música e que nunca pretende afastar-se das suas origens.
Da Igreja ao Palco
O início da sua carreira foi inesperado, mas cheio de fé e propósito.
“Eu era corista na Igreja Bom Deus e ensinava as crianças a louvar. Mais tarde, viajei para a Lunda Norte e fui convidada a fazer coro para a Banda Mimbo. Depois disso, participei em músicas de outros artistas e percebi que aquele era o meu caminho.”
Em 2009, decidiu seguir carreira a solo, lançando o tema ‘Canjonjeira’, que se tornou um sucesso regional e abriu portas para a sua afirmação artística.
Inspirações e Influências
Quando questionada por Chakuisa Muachinguenji sobre as suas referências, Muana Kachokwe Tchol destacou grandes nomes da música angolana:
“Sou fã da Yola Semedo e da Patrícia Faria. Admiro a forma como a Patrícia mantém a cultura nacional viva — usa o pano, o cabelo natural e é fiel às suas raízes. Gostaria muito de conhecê-la pessoalmente e dizer que sigo as suas pegadas.”
Além delas, menciona Balu Januário e o estilo Sassa TChokwé como influências marcantes:
“Ele é um artista completo. Dança, canta, sente. Gosto das suas músicas acústicas, porque me ajudam a amadurecer musicalmente.”
Valorizar a Cultura Nacional
A artista aproveitou a conversa para refletir sobre o distanciamento dos jovens em relação às línguas nacionais e à cultura tradicional.
“Quando vim para Luanda, só falava Tchokwe. Sofri preconceito, diziam que eu vinha do mato. Esse tipo de mentalidade afasta-nos da nossa própria essência. Hoje até o soba vê novela e já não ensina no jango como antes. A nossa cultura está a perder o brilho, e precisamos resgatá-la.”
“A Vaidade se Foi”: Entre a Dor e o Amor
Outra das suas composições, “A Vaidade se Foi”, é um tributo à dor e à humildade.
“Essa música fala das perdas. Quando perdi o meu pai, senti que enterrei a vaidade. É uma canção sobre a valorização das pessoas enquanto ainda as temos connosco.”
Uma Mensagem de Verdade e Cultura
No encerramento da entrevista, Muana Katchokwe Tchol deixou uma mensagem que resume a sua essência:
“A música é mais bonita quando carrega verdade, sentimento e cultura. Devemos cantar nas nossas línguas, valorizar as nossas raízes e mostrar ao mundo quem realmente somos.”
Ficha Técnica
Entrevistador: Chakuisa Muachinguenj
Artista convidada: Muana Katchokwe Tchol
Produção: Rádio Zango 8000
Local: Centralidade Zango 8.6
Temas em destaque: Manaminga não lamenta, A Vaidade se Foi, Canjonjeira
Data: Outubro de 2025
Rádio Zango 8000 – Onde a voz da cultura angolana tem lugar e coração.
Sem comentários:
Enviar um comentário