Das Lundas para o mundo: Muana Katchokwe Tchol, a voz que canta a alma do povo - Rádio 8000

NOTÍCIAS

Home Top Ad




















Post Top Ad








quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Das Lundas para o mundo: Muana Katchokwe Tchol, a voz que canta a alma do povo


Entrevista conduzida por Chakuisa Muachinguenji | Rádio Zango 8000


Das terras culturais das Lundas para o mundo, surge a força feminina e a musicalidade de Muana Katchokwe Tchol, uma artista que carrega na voz as histórias, as dores e o orgulho de um povo. Em entrevista exclusiva à Rádio Zango 8000, conduzida por Chakuisa Muachinguenji, a cantora falou sobre as suas origens, as suas canções e a importância de preservar a identidade cultural angolana.


 “Manaminga não lamenta”: Uma História Vivida

A conversa começou com a música “Manaminga não lamenta”, tema que abriu o programa e emocionou os ouvintes. A canção nasceu de uma história real vivida pela avó da artista.

“Essa música inspirou-me através da minha avó. Ela tinha um filho caçula que se envolveu em maus caminhos, e a vizinhança passou a maltratá-la. Até o marido deixou de respeitá-la, culpando-a pela educação do filho. Quando ouvi a conversa entre a minha mãe e a minha avó, percebi que era uma história que precisava ser transformada em canção.”

Foi dessa dor e dessa vivência familiar que nasceu um dos temas mais sentidos do seu repertório.


 Identidade e Raízes

O nome artístico Muana Katchokwe Tchol é uma homenagem direta à sua origem e ao povo Tchokwe, conhecido pela riqueza cultural e pela tradição.

“Eu sou Tchokwe, venho de uma família de reis e rainhas. Apesar de viver em Luanda e ser formada em língua portuguesa, nunca deixei de preservar a minha língua materna. Desde pequena danço Tchianda — e é daí que vem o nome ‘Tchole’. Quando dançava, as pessoas vinham beliscar o meu ombro em sinal de alegria. Assim nasceu o nome Muana Katchokwe Tchol.”

A artista afirma que a sua identidade é a base da sua música e que nunca pretende afastar-se das suas origens.


 Da Igreja ao Palco

O início da sua carreira foi inesperado, mas cheio de fé e propósito.

“Eu era corista na Igreja Bom Deus e ensinava as crianças a louvar. Mais tarde, viajei para a Lunda Norte e fui convidada a fazer coro para a Banda Mimbo. Depois disso, participei em músicas de outros artistas e percebi que aquele era o meu caminho.”

Em 2009, decidiu seguir carreira a solo, lançando o tema ‘Canjonjeira’, que se tornou um sucesso regional e abriu portas para a sua afirmação artística.


 Inspirações e Influências

Quando questionada por Chakuisa Muachinguenji sobre as suas referências, Muana Kachokwe Tchol destacou grandes nomes da música angolana:

“Sou fã da Yola Semedo e da Patrícia Faria. Admiro a forma como a Patrícia mantém a cultura nacional viva — usa o pano, o cabelo natural e é fiel às suas raízes. Gostaria muito de conhecê-la pessoalmente e dizer que sigo as suas pegadas.”

Além delas, menciona Balu Januário e o estilo Sassa TChokwé como influências marcantes:

“Ele é um artista completo. Dança, canta, sente. Gosto das suas músicas acústicas, porque me ajudam a amadurecer musicalmente.”


Valorizar a Cultura Nacional

A artista aproveitou a conversa para refletir sobre o distanciamento dos jovens em relação às línguas nacionais e à cultura tradicional.

“Quando vim para Luanda, só falava Tchokwe. Sofri preconceito, diziam que eu vinha do mato. Esse tipo de mentalidade afasta-nos da nossa própria essência. Hoje até o soba vê novela e já não ensina no jango como antes. A nossa cultura está a perder o brilho, e precisamos resgatá-la.”


 “A Vaidade se Foi”: Entre a Dor e o Amor

Outra das suas composições, “A Vaidade se Foi”, é um tributo à dor e à humildade.

“Essa música fala das perdas. Quando perdi o meu pai, senti que enterrei a vaidade. É uma canção sobre a valorização das pessoas enquanto ainda as temos connosco.”


Uma Mensagem de Verdade e Cultura

No encerramento da entrevista, Muana Katchokwe Tchol deixou uma mensagem que resume a sua essência:

“A música é mais bonita quando carrega verdade, sentimento e cultura. Devemos cantar nas nossas línguas, valorizar as nossas raízes e mostrar ao mundo quem realmente somos.”


 Ficha Técnica

Entrevistador: Chakuisa Muachinguenj

Artista convidada: Muana Katchokwe Tchol

Produção: Rádio Zango 8000

Local: Centralidade Zango 8.6

Temas em destaque: Manaminga não lamenta, A Vaidade se Foi, Canjonjeira

Data: Outubro de 2025



Rádio Zango 8000 – Onde a voz da cultura angolana tem lugar e coração.

Sem comentários:

ADS

Pages