Luanda – Poucos nomes na história africana contemporânea geram tanta polémica como o de Idi Amin Dada, militar que governou Uganda entre 1971 e 1979. Aclamado inicialmente como herói nacional, rapidamente se transformou num dos ditadores mais temidos do continente, deixando um legado de violência, arbitrariedade e colapso económico.
Da tropa colonial ao poder absoluto
Nascido por volta de 1925, na região de Koboko, no noroeste de Uganda, Idi Amin iniciou a sua carreira militar no exército colonial britânico, participando em operações no Quénia e noutros territórios da África Oriental. A sua robustez física e disciplina permitiram-lhe ascender rapidamente nas fileiras.
Em janeiro de 1971, aproveitando-se da ausência do então presidente Milton Obote, liderou um golpe de Estado e assumiu o poder. No início, foi recebido com entusiasmo por uma população cansada de instabilidade política, mas depressa se revelou implacável na consolidação do seu regime.
O regime do medo
Durante os oito anos em que esteve no poder, estima-se que entre 100 mil e 500 mil pessoas tenham sido assassinadas por razões políticas, étnicas ou pessoais. O regime de Amin perseguia opositores, intelectuais e minorias étnicas. Torturas, desaparecimentos forçados e execuções públicas tornaram-se práticas comuns.
Em 1972, decretou a expulsão da comunidade asiática, composta por cerca de 80 mil indianos e paquistaneses que controlavam grande parte da economia ugandesa. O que foi anunciado como um ato de “nacionalismo económico” acabou por mergulhar o país numa grave crise, com fábricas abandonadas, comércio paralisado e escassez de bens essenciais.
O ditador excêntrico
Idi Amin também se destacou pela sua excentricidade. Autoatribuía títulos extravagantes, entre os quais:
"Sua Excelência, Marechal de Campo Alhaji Doutor Idi Amin Dada, Senhor de Todas as Bestas da Terra e Peixes do Mar, Conquistador do Império Britânico na África em Geral e de Uganda em Particular".
Enquanto multiplicava declarações pomposas e caricatas, o povo vivia mergulhado no medo e na pobreza.
A queda e o exílio
Em 1978, após ordenar a invasão da Tanzânia, Amin foi derrotado. Tropas tanzanianas, em aliança com ugandeses no exílio, avançaram sobre Kampala e derrubaram o regime em abril de 1979.
O ditador fugiu, primeiro para a Líbia, depois para o Iraque e finalmente para a Arábia Saudita, onde viveu discretamente até à sua morte em 2003, com 78 anos.
Um legado sombrio
Apesar de algumas tentativas de relativizar o seu papel, a memória de Idi Amin continua indissociável da repressão e do atraso económico que impôs a Uganda. A sua governação permanece como exemplo extremo dos riscos do poder absoluto e da instrumentalização do nacionalismo.
Mais de quatro décadas após a sua queda, o país ainda carrega as cicatrizes de um dos períodos mais sombrios da sua história.
Sem comentários:
Enviar um comentário