Por Chakuisa Dos Santos Muachinguenji
Recebi, pela terceira vez, uma mensagem suspeita. O conteúdo era direto: “O seu processo foi aceite. Ligue.”
Desconfiei de imediato. Já conhecemos essa fórmula. Sabemos, cá dentro, que é burla. Mas, num impulso talvez curioso, decidi ligar. Talvez para ouvir de viva voz o embuste.
Do outro lado da linha, uma voz masculina perguntou se eu sabia que processo se tratava. Respondi com outra pergunta: “Que processo?”
Ele insistiu: “Você não deixou nenhum processo numa empresa?”
Disse-lhe que não. Que nunca deixei qualquer processo. E, com isso, confrontei o autor da chamada.
Sabia que estava diante de um burlador. E, como é comum nestes confrontos, a máscara caiu…
Chakuisa: "Foi Aceite no Processo" – A Nova Cara da Burla em Angola
O meu telefone tocou. Era mais uma armadilha. E infelizmente, já é rotina.
Recebi, pela terceira vez, a mesma mensagem:
“O seu processo foi aceite. Ligue.”
Não me candidatei a nada. Não deixei currículo em lugar nenhum. Mas ali estava a notificação, como se eu estivesse à espera de um milagre. Desconfiei. Era burla — eu sabia. Mas desta vez decidi ligar, talvez movido pela curiosidade ou pela vontade de confrontar quem está por trás desse tipo de golpe.
Do outro lado da linha, um homem, voz firme:
— Já sabes de que processo foste aceite?
— Que processo? — perguntei.
— Você não deixou nenhum processo numa empresa?
— Não deixei nenhum tipo de processo — respondi. E confrontei o homem.
Ele percebeu que eu não era uma vítima fácil. E como acontece com muitos desses burladores, quando perdem o controlo da narrativa, perdem também a educação. Ofendeu a minha mãe... e desligou.
As novas formas de burla
Esta história podia acabar aqui, mas não acaba. Porque não é um caso isolado.
As burlas por telefone ou mensagem tornaram-se cada vez mais frequentes em Angola. Recebemos mensagens a pedir que liguemos. Outras vezes, chegam notificações falsas de instituições públicas, como a END ou a Água de Luanda, a informar que temos faturas por pagar. Mas quem usa pré-pago sabe que não há fatura nenhuma. É tudo encenação.
É a burla digital, que se aproveita da falta de fiscalização, da fragilidade dos nossos dados pessoais e da esperança das pessoas em dias melhores.
Um padrão que se repete
Há algo que me inquieta e que é partilhado por muitos que já passaram por isso: a maior parte dessas chamadas tem sotaque de origem estrangeira, particularmente da região dos Grandes Lagos. Sem generalizar, nem incentivar o preconceito, é um dado que chama atenção.
É raro ouvir um burlador com sotaque do sul de Angola. A maioria tem traços linguísticos vindos do Norte ou mesmo de países vizinhos. Isso não isenta os nacionais, claro. Mas mostra que existe um padrão que merece investigação.
Até onde vamos deixar isto continuar?
A burla tornou-se parte da nossa rotina digital. Atende-se o telefone com desconfiança. Lê-se mensagens com receio. Já não se sabe de onde vem o próximo golpe.
E a grande pergunta é: onde estão as autoridades?
Como é que os nossos dados continuam a circular com tanta facilidade?
Por que razão ninguém é responsabilizado por essas redes de burla telefónica?
Precisamos falar sobre isto. Precisamos proteger os mais vulneráveis. E precisamos, acima de tudo, reagir enquanto ainda há tempo.
🔒 Dica final:
Nunca forneça dados pessoais por telefone. Desconfie de mensagens com promessas, prêmios ou cobranças inesperadas. Denuncie sempre que possível. A burla só cresce no silêncio.
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